terça-feira, 17 de novembro de 2009

Qualquer coisa...




'Tava tentando jogar The Elder Scrolls, mas o CD não rodou. E meu Amor me mandou dormir, avisando que já 'tava na minha hora - DELA, diga-se a verdade... Sem papo com meu Amor, sem joguinho no computador... : vim escrever qualquer coisa, antes de dormir.

A Veja dessa semana trouxe uma de sua eventuais reportagens sobre o corpo, daquelas pra pegar leitores(as) interessados(as) em entrar em boa forma - ops!, em cuidar da saúde, melhor dizendo. Mas o assunto de fato desta edição como um todo (editorial, entrevista, comentários espalhados aqui e ali...) é o cada vez mais intenso duelo "Lula versus Imprensa" - exageros de ambas as partes. E quando se observa que os exageros partem de ambas as partes é sinal de que, ao contrário do que os dois lados afirmam, nossa democracia ainda vai bem, obrigado.

Hora dessas, nos quatro canais de que disponho aqui em SC (Globo, Record, RedeTv! e Tv Gazeta), não 'tá passando coisa alguma que se aproveite. Ainda tivesse o SBT, e eu estaria vendo Supernatural - qual cara não gostaria de ser o Dean Winchester, que só pega pega mulherão, anda num Camaro todo preto ouvindo ACDC pelas estradas mais prosaicas dos EUA, e passa as noites estourando a cabeça e outras partes dos mais variados malassombros? Quem sabe um dia, quando eu largar do PRONAF, né? Cada qual com seus malassombros...

Doido pra ir a Natal hoje, ver meu amor e botar o namoro em dia... Amor, 'tou terminando um texto bem romântico pra postar aqui, viu? Dia 20 sai - se tu 'inda me aguentar até lá!!!!

Sozinho aqui, e o Leão da capa d'As Crônicas de Nárnia me paquerando acolá, de cima da cadeira... Encaro tu já-já, viss, Leão? Mato uns três por dia, lá no Banco - só pra tu saber...

Ouvindo Tom Jones - "She's a Lady": "Talking about that little Lady, and the Lady is mine..." Tom Jones dá uma vontade danada de dançar (até quando eu 'tou deitado, como agora) - dançar, entre outras coisas...

Sem coragem de dar uma olhada nas notícias, também: o Vascão foi campeão, é notícia mais do que suficiente pra passar Novembro... Ademais, só se fala na moça ('té parece!...) da minissaia vermelha. Belas coxas, mas já cansou, esse assunto - já nasceu velho, por sinal.

E não vou nem me dar ao trabalho de procurar uma ilustração pra esta postagem, que eu 'tou morto de preguiça - vai uma foto da minha égua, a finada Lady Di, saudosa mãe de Lady Kate.

'Té.



domingo, 20 de setembro de 2009

De Post-It

Sempre gostei de guardar pequenas recordações, objetos que evocam lembranças de pessoas ou acontecimentos que, por um motivo ou outro, deixaram em minha alma uma forte impressão. Hoje, arrumando o guarda-roupas que herdei junto com a vaga no apartamento que ora habito, reencontrei vários trastes que fui juntando nestes últimos 4 ou 5 anos, coisas que não fossem elas receptáculos de boas memórias e já teriam sido dispensadas, deixando espaço para a precária organização que tento impor ao meu quarto.

Por exemplo: encontrei agora a pouco um bloquinho de post-its, que guardo tem bem uns três anos, já - e todo ele em branco (ou amarelo, na verdade). Acontece que esse bloquinho é a única recordacão física que me restou de uma boa amiga, de quem eu tinha por hábito furtar pequenos objetos só para vê-la irritada - daquele jeito charmoso que ela tinha de irritar-se comigo. Coincidentemente, este bloquinho - o último objeto que tirei dela e o único que não devolvi - esse bloquinho diz alguma coisa sobre a minha amiga, pessoa organizada que só ela, que sempre conferia aos compromissos o rigor e a formalidade de uma agenda, com datas e horários marcados e objetivos pré-definidos. E o fato de o bloquinho de post-its ter permanecido em branco (ou amarelo...) diz algo sobre a nossa amizade, de compromissos que não chegamos a assumir e que nunca saíram do infinito campo das meras possibilidades.

Da mesma forma, encontrei soldadinhos de metal que colecionei em minha adolescência, uma coruja de louça que meu irmão me deu, um velho poema escrito a quatro mãos e à distância, cartas amareladas de paixões que foram ficando pelos caminhos, etc etc etc. Tempos atrás, ri bastante e fiz piadas que não acabavam mais sobre uma tia minha que até pernas de óculos guardava, num quarto todo ele repleto de coisas do tipo. Vejo que não sou tão diferente dela, afinal.

Esses objetos ficaram, como pequenas lâmpadas mágicas, insuspeitas prisões dos gênios poderosos que são certas recordações que, se não nos concedem os três desejos como aqueles gênios dos contos árabes, nos contemplam com a possibilidade de imaginarmos os futuros alternativos que nos foram apresentados ao longo da vida: se eu tivesse ficado com Fulana, e escolhido deixar meu trabalho, e terminado meus estudos, e comprado uma moto, etc etc etc. A vida então teria sido outra, e outras as recordações que eu guardaria. E se é verdade que poderia ter sido diferente, também é verdade que não foi má até aqui, essa vida que me deu tantos motivos para guardar boas e valiosas recordações.

Assim, do dilema entre jogar fora alguns trastes ou conservá-los pelo preço da organização de um guarda-roupas, que sacrifique-se a organização, para que as memórias das boas coisas que vivi possam continuar me movendo rumo a tudo aquilo que ainda pretendo viver.

(Santa Cruz, 16/09/09).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Da Fé



"Estive por muito tempo perdido sem o saber. Sem fé, a gente é livre e essa é, a princípio, uma sensação agradável. Não existem questões de consciência, nem sujeições, exceto as sujeições impostas pelos costumes, pelas convenções e pela lei, mas estas são bastante flexíveis para a maioria dos propósitos. Só mais tarde é que chega o terror. É-se livre - mas livre em meio do caos, num mundo inexplicado e inexplicável. É-se livre num deserto, do qual não há recuo senão para dentro, para o âmago oco do nosso próprio ser. Nada há sobre que se construir, salvo a pequena rocha de nosso próprio orgulho, e isso é um nada, baseado em nada... Penso, logo sou. Mas que sou eu? Um acidente de desordem, indo para parte alguma..." (Morris West, O Advogado do Diabo)

(...)

"Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dôr." (Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)

(...) "Cheio de Deus, não temo o que virá Pois venha o que vier nunca será Maior do que a minha alma." (Fernando Pessoa, Mensagem)


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Soldadinho de Chumbo, de Renato Braz


"Teu sorriso, bailarina...
E teu jeito me fascina;
Em meu peito baila a rima
Que o coração me ensina.

Aproveito, bailarina,
Pra falar da minha sina
De soldado apaixonado, desarmado
Por teus olhos de menina.

Dentro do meu peito de brinquedo
Bate um coração sem medo
Que te pede, que te diz:
'Deixa eu entrar na tua dança
Que uma estória de criança
Tem que ter final feliz'".

http://vagalume.uol.com.br/renato-braz/soldadinho-de-chumbo.html

Sublime na voz de Monica Salmaso...

(imagem lá de cima tomada de empréstimo junto ao http://historiasencantar.blogspot.com)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

De Leituras e Livros


"Seja como for, enquanto não chega esse dia, os livros estão aqui, como uma galáxia pulsante, e as palavras, dentro deles, são outra poeira cósmica flutuando, à espera do olhar que as irá fixar num sentido ou nelas procurará o sentido novo, porque assim como vão variando as explicações do universo, também a sentença que antes parecera imutável para todo o sempre oferece subitamente outra interpretação, a possibilidade duma contradição latente, a evidência do seu erro próprio." (José Saramago, História do Cerco de Lisboa)


"Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece. (...) Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, nós, guardiãos, os que conhecemos este lugar, garantimos que ele venha para cá. (...) Na loja, nós os vendemos e compramos, mas na verdade os livros não têm dono. Cada livro que você vê aqui foi o melhor amigo de um homem. (...)
- É hábito nosso, da primeira vez que alguém visita este lugar, que escolha um livro, aquele que preferir, e que o adote, garantindo assim que nunca desapareça, que se mantenha vivo para sempre. É uma promessa muito importante. (...)
(...) Aos poucos, assaltou-me a idéia de que atrás da capa de cada um daqueles l
ivros se abria um infinito universo por explorar e que, fora daquelas paredes, o mundo deixava que a tarde passasse em tardes de futebol e em novelas de rádio, satisfeito em ver apenas até onde vai o seu umbigo e pouco mais." (Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento).

"Geralmente, quando nos referimos à literatura, pensamos no que tradicionalmente se costuma chamar 'belas letras' ou 'beletrística'. Trata-se, evidentemente, só de uma parcela da literatura. Na acepção lata, literatura é tudo o que aparece fixado por meio de letras - obras científicas, reportagens, notícias, textos de propaganda, livros didáticos, receitas de cozinha, etc. Dentro deste vasto campo das letras, as belas letras representam um setor restrito. Seu traço distintivo parece ser menos a beleza das letras
do que seu caráter fictício ou imaginário. A delimitação do campo da beletrística pelo caráter ficcional ou imaginário tem a vantagem de basear-se em momentos de 'lógica literária' que, na maioria dos casos, podem ser verificados com certo rigor, sem que seja necessário recorrer a valorizações estéticas. Contudo o critério do caráter ficcional ou imaginário não satisfaz inteiramente o propósito de delimitar o campo da literatura no sentido restrito. A literatura de cordel tem caráter ficcional, mas não se pode dizer o mesmo dos Sermões do Padre Vieira, nem dos escritos de Pascal, nem provavelmente dos diários de Gide ou Kafka. Será ficção o poema didático De Rerum Natura, de Lucrécio? No entanto, nenhum historiador da literatura hesitará em eliminar das suas obras os romances triviais de baixo entretenimento e em nelas acolher os escritos mencionados. Parece portanto impossível renunciar por inteiro a critérios de valorização, principalmente estética, que como tais não atingem objetividade científica embora se possa ao menos postular certo consenso universal." (Antonio Candido e Ruma, A Personagem de Ficção).

"A poesia não é menos misteriosa que os outros elementos do orbe. Tal ou qual verso afortunado não pode envaidecer-nos, porque é dom do Acaso ou do Espírito; só os erros são nossos. Espero que o leitor descubra em minhas páginas algo que possa merecer sua memória; neste mundo a beleza é comum." (Jorge Luis Borges, Elogio da Sombra).

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Californication: o seriado, não a música...


"Fuck".

É tudo o que o escritor fudido Hank Moody consegue botar "no papel" no final de um dia, no primeiro episódio desse seriado. E que episódio... Em meia hora, Hank Moddy... Dois pontos: começa encarando Deus no que deveria ser uma conversa de homem para Homem ("Ok, Big Guy: you and me..."), acorda recebendo um boquete de uma "freira", tem o carro estiloso amassado pelo taco de beisebol de um corno, e, logo em seguida e ainda sem as calças - perdidas na casa da mulher que o acordou chupando-lhe -, vai apanhar a filha para o dia que a custódia limitada lhe permite passar junto a ela... E por aí vai...

Show, o seriado - que não é nenhum lançamento, já terminou inclusive a segunda temporada, mas que só agora eu baixei os episódios e pude assisti-los com mais calma e deleite.

Muito sexo, diálogos rápidos e inteligentes, trilha sonora bem interessante, David Duchovny demonstrando um charme vagabundo impressionante e insuspeito, um quê de prosa moderna e questionamentos urbanos contemporâneos... E alguns clichês a serem aparados (nem tudo é perfeito, é claro), mas tudo encadeado e rico em sentido: a melhor meia hora de um seriado que eu jamais tive o prazer de assistir.

O carinha é um tremendo fazedor de merdas, que aparentemente estragou o seu caso com a loiraça mãe de sua filha e, no mesmo embalo, perdeu o rumo da vida e enfiou-se até as orelhas na esbórnia. Quis fazer estilo, ao que parece, e, tentando fugir de quaisquer clichês, findou sendo ele mesmo um clichê ambulante e vazio. Perdendo o amor da única mulher digna do seriado, ele perdeu também o sentido de sua vidinha, e findou fazendo do cinismo não um meio, mas um fim em si mesmo. Sem sentido, sem literatura: o cara não consegue mais escrever - exceto "Fuck" / "Porra", diria eu.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Fabuloso Destino de Amelie Poulain


Por indicação de uma prima querida, fui procurar este filme (O Fabuloso Destino de Amelie Poulain - França, 2001; de Jean-Pierre Jeunet, com Audrey Tautou e Mathieu Kassovitz), do qual eu já havia ouvido falarem muito bem, mas que eu nem lembrava mais de querer assistir. Fico devendo esse favor.

Sim, porque é um filme encantador. Impressionista e francês - na melhor acepção de ambas as palavras. E os olhos grandes no rosto delicado de Audrey Tautou ficaram perfeitos na história de Amelie Poulain.

Ela, Amelie Poulain, foi uma criança que teve todos os motivos para ser triste. Mas acontece que ela é feliz - ou quase. Um pai distante - que, por ser incapaz de compreender os sentimentos da filha tanto quanto de compartilhá-los, julgou que uma leve palpitação fosse indício de uma doença grave - , e ma mãe neurótica e tragicamente morta: tudo isso fez de Amelie uma criança solitária e inevitavelmente sonhadora.

Quando resolve sair para o mundo, Amelie trabalha como garçonete num restaurante onde todos os demais funcionários, assim como os fregueses habituais, percebem a realidade cada qual do seu jeito: a hipocondríaca, que vê doença onde não há; o ciumento patológico, que vê traição em todos os mínimos atos da ex; a nostálgica Suzanne, que idealiza o seu passado num circo, etc. Todos eles com problemas reais, de fato - mas os problemas imaginados é que são os mais graves, como Amelie cedo percebe.

No início, Amelie apenas observa o mundo à sua volta, imaginando o que as outras pessoas poderiam estar fazendo ou sentindo, e participa desse mundo mais como expectadora. Até que, à época da morte de Lay Di, Amelie acidentalmente descobre um "tesouro escondido": uma caixinha cheia de brinquedos e outros objetos infantis. Imaginando o quanto aquela caixinha tão bem-guardada deve ter sido importante para o seu proprietário de décadas atrás, Amelie atribui a si mesma a missão de devolver o tesouro/infância perdido(a) ao seu legítimo e insubstituível dono. Após perceber que aquele pequeno gesto de bondade provocou uma mudança para melhor na vida de um homem até então infeliz, Amelie se dá conta de que fazer o bem àquele homem proporcionou também a ela uma justa felicidade. A partir daí, ela resolve fazer o bem a todos aqueles que a cercam e que ela percebe precisarem apenas de um pequeno empurrão rumo à felicidade.

E são justamente os planos cheios de criatividade deAmelie que dão movimento, graça e leveza ao filme. As inigualáveis compaixão e sensibilidade de Amelie fazem com que ela perceba exatamente o que incomoda as pessoas que a cercam, e a sua imaginação poderosa cria os caminhos para resolver os problemas alheios. Num momento especialmente saboroso do filme, ela consegue deixar desconfortável em sua própria casa um quitandeiro que tem por hábito humilhar o seu ajudante. Só que ela, que é tão hábil para dar um jeito na vida dos outros, não consegue enfrentar o desafio de arriscar o amor e, assim, resolver a própria vida. E é preciso que um homem de vidro, que não cansa de representar o mesmo quadro de Renoir (uma cópia por ano), cobre dela a coragem de encarar o amor de frente, sem máscaras ou subterfúgios - pois ela não tem, como ele, a desculpa de ossos frágeis para esconder-se do mundo.

O filme todo é de uma poesia tocante, e consegue o feito de nos deixar acreditando que a felicidade é possível e o amor é a salvação. E tudo isso quem nos mostra é uma garçonete parisiense - sem coroa, sem glamour e sem a impressionante beleza daquela princesa morta - contraste, de resto, bem evidenciado pelo narrador (apenas aparentemente protocolar), que enuncia fatos e sentimentos sem a pompa dos narradores usuais dos contos de fadas/estórias de princesas, mas que o faz (o narrar) com graça e verdade.

Se Renoir voltasse lá de onde ele está e resolvesse dirigir um filme, ele sairia mais ou menos assim.