sábado, 3 de janeiro de 2009

Rocky Balboa e o Ano Novo



No dia 1, meu primeiro filme do ano: Rocky Balboa. Não foi uma escolha deliberada, eu estava apenas zapeando quando dei de cara com o filme, já iniciado, mas ainda não muito longe do começo. Assim, fui atrás dele, e ao final me dei conta de que poucos filmes cairiam tão bem num início de ano.

Desde já, confesso: sempre fui fã do personagem, foi um dos heróis de minha infância (como não?) - aquela coisa de treinar bastante, ficar forte e vencer adversários assustadores caiu como uma luva em minhas fantasias de menino franzino e miúdo, assombrado, como Rocky, pelo medo dos mais fortes, mas impulsionado, como o "Italian Stallion", pela necessidade de superar esses medos, de provar-se.

Acontece que, quando soube do lançamento desse sexto filme da série, há uns dois anos, fiquei empolgado, e até comprei um DVD de "Rocky, um lutador", o primeiro de todos. E, aqui, minha segunda confissão: o filme, o primeiro de todos, beira o ruim (o ridículo, na verdade), me decepcionei bastante - quebrou-se o encanto, enfim. Só consegui identificar como algo realmente bom no filme aquela autenticidade comovente do personagem, um simplório plenamente consciente de suas limitações, mas com uma teimosa vontade de burro velho que o faz empatar a luta final contra o campeão do mundo, superior técnica e fisicamente - mas que havia perdido aquela coisa de lutar "com o coração". E só isso que Rocky tinha, coração.

Então, fui ver este Rocky Balboa com as piores expectativas possíveis, o que talvez tenha sido a minha sorte, afinal - porque o filme é muito melhor do que a encomenda. Eu tenho vontade de dizer que o filme é muito bom, o melhor da série, mas pode ser que assim eu pense justamente pela comparação com as baixas expectativas que eu tinha, antes de vê-lo.

Eu me explico, por partes.

Primeiro, o boxe sempre foi, para Stallone, uma metáfora da vida. E esse filme é uma metáfora da carreira do próprio Stallone - um ex-campeão, vivendo de glórias do passado. Depois da morte de sua esposa, parece que fica faltando algo pra Rocky. Mas disso eu não sei ao certo, porque eu peguei o filme quando Rocky já está caducando, procurando uma pequena que ele ajudou no primeiro filme, na época em que ela era ainda uma menina meio doidinha e desbocada.

O filme engrena quando o pessoal da ESPN resolve simular uma luta hipotética em computador, entre Rocky no auge e o atual campeão, Mason Dixon - um lutador muito talentoso, mas sem uma grande luta no currículo. O resultado, de acordo com o computador, seria a vitória de Rocky, por nocaute. Dixon se ofende com o resultado e os comentários generalizados de que não tem como saber o quão bom ele é, porque ele nunca teve um grande adversário. E Rocky se ressente por alguns comentários de que ele não é mais nada, um cachorro velho para o qual ninguém liga mais.

Rocky decide, então, se provar, e obtém uma nova licença para lutar entre os profissionais. Ele quer, como diz ao cunhado Polly, "soltar a besta negra que mora em seu porão". Os empresários de Dixon aproveitam essa crise de meia-idade de Rocky e a vontade de Dixon de provar pra todos que ele é, sim, um verdadeiro campeão, e armam uma luta de exibição entre os dois.

Rocky é, então, questionado pelo seu filho, e aí que ocorre o melhor momento do filme, aquele em que Rocky/Stallone se justifica e, de lambuja, ainda passa ao filho uma lição de caráter. Pense num pai porreta! Ele diz pro filho que o importante não é bater, mas aguentar apanhar e seguir tentando, apesar de tudo. Ele diz pro filho que o mundo não é um arco-íris, mas sim um lugar feio e sujo, e que ninguém vai bater mais forte nele do que a vida, e que ele foi um jovem excelente, mas que acabou se perdendo na busca por uma vida própria, porque esqueceu de quem era. Depois dessa, o filho resolve ficar do lado do pai na luta.

E a luta, que deveria ser de exibição, finda sendo um combate épico, em que a vitória deixa de ser fundamental - aqui, o que conta é provar-se, é conquistar para si a única forma de respeito que importa, segundo Rocky: o respeito próprio. No final da luta, Rocky confirma para Polly que soltou de vez a fera que trazia em seu porão, e não espera para saber se ganhou ou perdeu a luta, porque tem consciência de ter protagonizado um belo combate. Mais ou menos como deve ser com a vida. Então, caso em 2009 eu não consiga realizar todos os itens de minha listinha de planos, vou ver se dou um jeito de, pelo menos, descer do ringue como Rocky: com dignidade.